Leitura: Infidel, Ayaan Hirsi Ali

maio 19, 2017 Helô Righetto 0 Comentários


Esse livro, uma autobiografia, me foi recomendado por algumas mulheres toda vez que eu postava algum livro sobre feminismo no Instagram. Não é exatamente um livro feminista, mas é a história de uma mulher que lutou contra opressão.


Ayaan Hirsi Ali nasceu na Somália, e tem uma história de vida admirável. Mudou-se diversas vezes com a família (em decorrência da instabilidade política da Somália e o fato de seu pai ser um dos líderes de um grupo de oposição). Viveu na Arábia Saudita, Etiopia e Quênia. Sofreu mutilação genital, espancamentos e restrições impostas por tradições anacrônicas tanto da sua religião quanto da sua família. Teve uma relação de "amor e ódio" com a religião durante a adolescência, e ao mesmo tempo que obedecia regras, não entendia a razão delas existirem. Questionava-se o tempo inteiro.

Foi forçada a se casar com um homem que não conhecia (e, quando conheceu, não gostou) e finalmente conseguiu escapar de todas essas prisões, obtendo asilo na Holanda, onde muitos anos depois tornou-se membro do parlamento. Produziu um curta metragem com o cineasta Theo van Gogh (procure no Google, não vou escrever aqui o nome nem sobre o que se trata porque não quero ninguém buscando razões para incitar o ódio religioso aqui no meu blog), e por causa desse filme ele foi assassinado. Ela foi ameaçada e viveu por muito tempo escondida e sob proteção da polícia.

Bom, essa é a história muito, mas MUITO resumida. Como eu falei lá em cima, é realmente admirável a luta dela e sua coragem em aproveitar a oportunidade para conseguir tomar as rédeas da própria vida.

Mas tem algumas coisas que me incomodaram nesse livro. A primeira é o fato de que ela em nenhum momento, nem mesmo no final, reconhece que não enxergava que todos os horrores que ela sofreu nas mãos da mãe foram em decorrência do descaso do pai. O pai abandonou a família (mais de uma vez) e as deixou na beira da miséria, fazendo com que mãe dependesse de favores de amigos e familiares por muito tempo. Criou todos os filhos sozinha sem ter nenhum direcionamento, sem nenhuma perspectiva de melhoria de vida.

Já o pai é visto como herói. Quando volta pra casa depois de anos de abandono, é celebrado por ela, que não demonstra um pingo de consideração pela mãe, amargurada e com sérios problemas mentais. Até mesmo depois de romper com ele, ela não dedica nenhum espaço no livro para refletir sobre como a ausência dele influenciou na vida miserável da mãe e, consequentemente, na dela.

Outra coisa que me incomodou é sua visão política. Óbvio que ela tem o mérito por tudo que conseguiu, mas o fato de ela ter tido a força e a coragem para romper com sua família, com sua tradições e, acima de tudo, com a sua religião, não significa que ela tenha uma receita pronta para todas as outras mulheres muçulmanas. Pra mim, a generalização é um erro. E um perigo: eu achei que o discurso dela em relação a segregação religiosa e cultural e também em relação a política de benefícios e salário mínimo para imigrantes/refugiados é o tipo de coisa que faz uma pessoa como Donald Trump sorrir de orelha a orelha.

Em tempo: eu GOSTEI do livro. Achei ela uma mulher sensacional, e é maravilhoso saber que a história dela serviu de inspiração para outras mulheres na mesma situação de opressão. O que não bate comigo são os ideais e a generalização. Mas ó, recomendo que você leia para tirar suas próprias conclusões.

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